segunda-feira, 3 de maio de 2010

Contra a banalização do Twitter

Tive uma discussão com um casal de amigos esse fim de semana que só não foi mais curiosa porque, penso eu, tem sido um assunto comum entre vários grupos de nossa faixa etária.

Nos pusemos, eu e essa amiga, a tentar argumentar para nossos respectivos maridos do porquê do Twitter não ser uma mera perda de tempo. E de uma forma bastante consistente e totalmente espontânea acabamos conseguindo convecê-los de que, no mínimo, era possível lançar um olhar sério sobre essa experiência.

Me toquei de que, no que se refere as redes sociais, nós, trintões, somos de uma geração que ainda está meio dividida. Alguns engajadíssimos, outros torcendo o nariz. É muita novidade, muita velocidade, muita informação e a gente ta naquela fase de se sentir meio velho. Até comentei outro dia, noutra ocasião, como essa fase dos trinta é mesmo um divisor de águas na vida da gente. Mas o assunto não é esse e Balzac que descanse em paz.

É claro que essa é uma conversa já meio gasta e que é fácil pra mim, que estou absolutamente imersa nesse universo e tenho as “novas redes sociais” como ambiente de trabalho, listar as vantagens e os usos dessas ferramentas. O dado que eu considerei curioso foi a facilidade que nós duas tivemos para montar argumentos sólidos sobre a verdadeira revolução que acontece nesses meios, a partir das nossas próprias experiências.

Fiquei pensando depois que o que estamos vivendo é uma ruptura gigantesca do entendimento de nós mesmos como seres que pensam e se comunicam. Lembrei do quanto eu já falava isso de forma totalmente instintiva nas aulas de estética na universidade, ano passado. E até me choquei lembrando como ainda há gente jovem e inteligente que, no auge de sua arrogância intelectual, dá as costas pra essa tendência –  negligenciando a si próprio a possibilidade de romper barreiras para as mais ricas e inovadoras modalidades de trocas, cujo único filtro são seus interesses e suas vontades individuais.

Isso pra não entrar na seara da expressão artística, poética, subjetiva. Faíscas de efêmeras genialidades tem agora infinitos modos de serem eternizadas. Deixam rastros que podem ser literalmente “seguidos”. Demonstrações de simpatia, compartilhamento de sensações, gestos traduzidos em uma linguagem que transcende idiomas podem agora ser compartilhados entre seres de quaisquer lugares do planeta. Isso não é pouco e não é nada senso-comum quando experimentado com profundidade e entrega.

Nessa empolgação toda, fico tendo que controlar minha ansiedade em saber o que vem a seguir e que modelos de relacionamentos estarão em voga para a minha filha, por exemplo.  Será que é demais pensar que caminhamos para um momento em que, ao menos para a maioria de nós, a ignorância será uma questão de opção?

4 comentários:

Fabio Snoozer disse...

tá bom, tá bom, eu vou fazer um tuiter... tem versão blackbird? ;)

JAN DE LONAN disse...

simplesmente fabuloso vosso artigo!!!
és uma mestra! destila com esmero veneno e sabedoria!!

disse...

Grande Fúria! Vindo de vossa majestade, sinto-me honrada. :)

XXX - RATED ESCARRO NAPALM disse...

Vou continuar dispensando o twitter, apesar de seu EXCELENTE artigo. Questão de opção, mesmo. Acho que, como tudo o mais, tem gente que vai se adaptar e gente que não. A internet é sensacional, amo essa porra, mas também como tudo o mais na vida há prós e contras - aliás, acabo de ler um artido na Carta Capital (nas bancas, eu ainda frquento bancas de revista) em que um cara falou um frase genial: "a internet tem a extensão de uma galáxia e a profundidade de um dedo". É por aí. a internet é excelente como referencia, paa ler artigos, acho que substituirá com louvor os jornais impressos e, muito provavelmente, também as revistas, mas pra se aprofundar MESMO num assunto, só mesmo pegando um livro, sentando calmamente num canto e lendo. Pode até ser um livro digital, mas eu ainda prefiro as páginas de papel.