domingo, 29 de agosto de 2010

Reflexões sobre comunicação eleitoral nas redes sociais

Em tempos de eleições na web e, principalmente, com a nova possibilidade do contato “corpo-a-corpo” com o eleitor via redes sociais, é cada vez mais fina a linha que separa o que é relacionamento do que não passa de spam.

E neste quesito, todo cuidado é pouco. Porque é possível que ainda não tenha surgido um meio mais implacável de queimar a imagem de alguém do que as redes sociais. Quem cai em desgraça via Twitter ou Orkut, já era. Um conceito central, inerente à própria natureza da rede, é o veneno mais mordaz para os que perderam as lições de netiqueta: chama-se pulverização. A navegação em teia, cujas possibilidades de caminhos são absolutamente infinitas, carrega consigo a informação de modo individualizado, personalizado e dificilmente rastreável.

Ignorar a organicidade da rede é o maior equívoco que um candidato pode cometer. Significa dizer que não adianta sair falando a mesma coisa pra todo mundo; invadindo os espaços ocupados deliberadamente por pessoas que pensam – e prezam veementemente por sua liberdade de expressão nestes espaços – para empurrar um monólogo goela abaixo. É pedir pra ser massacrado publicamente. E nenhum lugar hoje é mais público que a web.

A campanha do governador de Sergipe e candidato à reeleição, Marcelo Déda, nas redes sociais tem tido esse cuidado. O internauta é tratado como alguém que pensa e opina do outro lado. Mais que falar, a presença da equipe Déda13 na rede tem por objetivo primordial ouvir, responder, dialogar.

Em vez de sair fazendo CtrlC CtrlV para todo lado, as contas identificadas pela campanha ‘Déda13’ são conduzidas com a intenção de proporcionar mais informações e argumentos para que o eleitor tome sua própria decisão.
Obviamente, ao serem detectados os perfis que já declaram espontaneamente suas intenções de posicionamento e de participação, a estratégia é usar as redes como um meio de constante  mobilização.

É bom ressaltar que a comunicação do governo Déda não caiu de paraquedas no mundo das redes sociais, por puro oportunismo de campanha eleitoral. Há pouco mais de um ano, com a mudança de secretariado na pasta de Comunicação, foi criado um núcleo dentro da Secretaria com o desafio de encontrar os melhores meios de marcar a presença do governo nestes novos espaços de diálogo.

Denominado “Núcleo de Cultura Digital”, o objetivo da nova equipe era ocupar esses espaços com os argumentos e a opinião do governo. E, acima de tudo, tirar proveito do potencial de interlocução destes novos meios, conscientes de que, pela primeira vez, a comunicação governamental tinha acesso a uma mídia que não é surda.

Ainda que criada intuitivamente, a denominação “núcleo de CULTURA digital” não poderia ter sido mais oportuna. Sim, porque era a mudança de um comportamento que se revelaria o obstáculo mais árduo a ser superado. Tanto dentro da própria dinâmica de trabalho do governo, como, sobretudo, por parte dos próprios cidadãos.

De tão novo, esse é um trabalho que causa muito estranhamento. Tentar se relacionar na rede declarando-se como ‘governo’ ou, mais difícil ainda, como ‘equipe de campanha’ de um candidato já é por si só um passaporte para o “unfollow” ou “block”. É preciso muito tato pra não soar invasivo ou ofensivo. Ainda assim, há um número expressivo de rejeição ‘a priori’.

No caso do governador Marcelo Déda, ajuda muito o fato dele próprio alimentar ativamente sua conta pessoal no Twitter. Assim, não fica dúvidas de que o perfil @MarceloDeda é ele próprio – e que portanto é, além de governador, um cidadão, um amigo, um pai, um marido – e o perfil @13deda é alimentado pela equipe de campanha com informações atualizadas exclusivamente sobre ações e agenda do candidato.

Outra diferenciação bastante peculiar, e difícil de ser definida, na comunicação online do candidato Marcelo Déda foi a separação entre o conteúdo de notícias do site e as abordagens dos textos no blog e nas redes. Até porque é muito comum que sejam profissionais de jornalismo que integrem ambas as equipes.

Separar as Hard News do conteúdo singular, específico, diferenciado, foi o caminho encontrado e que tem dado bastante certo. No mínimo, já dá pra saber que notícia é notícia; blog e rede social é... bem, é outra coisa.

Um bom exemplo do que é essa outra coisa foi o surgimento de um personagem no blog Déda 13: o repórter de campanha. Vez por outra, os posts do blog são narrados em forma de diário pessoal, em primeira pessoa, da figura do repórter que tenta ver de fora a experiência de  trabalhar na campanha deste candidato. Há um risco em não abusar da fórmula interessante, mas vale a ousadia.

Outra peculiaridade que define a “outra coisa” das redes sociais é a possibilidade de lidar com o material bruto, do ponto de vista estético. Em detrimento da qualidade sonora e visual, vale usar vídeos amadores pelo frescor do momentum que transmitem, pelo valor agregado de verossimilhança. E aqui há de se reconhecer que é louvável que um candidato aceite o risco desta aventura em sua comunicação oficial.



Maíra Ezequiel
Coord. de web/redes sociais da campanha Déda13


sábado, 21 de agosto de 2010

Generosidade intelectual

Essas duas palavras não me saem da cabeça.
Não vou começar agora a dizer às pessoas como elas devem viver.
Faltei a todas as aulas sobre como escrever um livro de auto-ajuda (se é que precisa de aula).
Tampouco estou me posicionando como um modelo de nada.
Não é isso.
É só que observo muito. As coisas, as pessoas, o mundo.
Penso e pulso. E, às vezes, ignoro. E me anulo.
Normalmente o que não me parece interessante é o que tem muita consciência de si.
Não precisa de mim.
Luto com todas as minhas forças, cotidianamente, para manter o exercício da auto-crítica, ainda que em detrimento da auto-estima.
Bate mais forte em mim o desejo de desvelar o talento inadvertido, a beleza embrutecida, a capacidade subestimada.
Repudio o brilho forjado, acreditado, nutrido. Que se preocupa, e perde tempo, em sê-lo. Mais que qualquer outra coisa.
Antes o silêncio, a página em branco, o sorriso espontâneo, a intenção de ser bem.