sábado, 24 de abril de 2010

Essa vida tira uma onda...

É só comigo ou vocês também tem a impressão que essa vida vive tirando uma onda com a gente?
Porque, vamo combinar, viver é participar de um festival de sarcasmo, ironia, humor negro e piadas sem graça.

Quer ver? Foi só eu começar a dizer pra mim mesma: "tudo bem, eu sou gordinha mesmo, tenho direito de ser gordinha e a partir de agora vou ser feliz assim!" Pra quê? No mesmo dia, vem minha mãe perguntar quando eu começo a fazer a dieta; minha tia pergunta quando vou voltar pra academia; gente me encontra na rua e comenta, daquele jeito meigo, "tá mais forte, né?"... e por aí vai. 

E quando eu penso em parar de beber? Parece que, de repente, sou a pessoa mais popular do mundo; todo mundo quer pagar uma pra mim; tem festa com birita de graça todo dia e até meu pai pergunta, com ar de surpresa: "Vai tomar uma cervejinha não?"

Tá. Aí eu decido fazer dieta. Como num passe de mágica, ninguém mais me acha tão gorda assim; aparecem mil aniversários de criança pra levar minha filha (aquelas orgias de doces); os colegas trazem chocolate pro trabalho, e etc.

Mas, táááá, tuuuudo bem. Isso é besteira. PIOR é quando eu paro e lembro que preciso ser uma pessoa MELHOR. "Preciso ser mais simpática, mais generosa, mais compreensiva." Acho que tem um radar que atrai todo tipo de pau-no-cu que é acionado justamente quando a gente insiste em ser uma pessoa do bem. 

Um  idiota te segue dando sinal de luz mesmo você estando na faixa da direita e a 100 km/h; o imbecil do seu vizinho decide testar o som ultra-mega-power do carro dele na sua porta num domingo à noite, obviamente com o pior repertório possível; aquela piranha safada que você odeia fica bêbada e dá em cima do seu marido na tua frente; sua filha estribucha no chão gritando bem alto no meio do shopping porque quer ir no game station.

Só digo uma coisa: se as coisas acontecem por vontade divina, Deus só pode ser um sádico.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Minha história com Daniel

Lendo todos os relatos sobre o Daniel e as homenagens feitas pelos amigos, senti que faltava a minha parte. Resolvi que compartilhar minha história com Daniel, com quem possa se interessar, talvez me ajudasse a superar a tristeza profunda que sinto agora e que me impede de tocar a vida com a mesma fluidez de antes.

Foi no dia 24 de julho de 1996, num fim de show da extinta Mosaico, um domingo a noite, no extinto Tequila Café, que eu passei pelo Fabinho, voltei e falei:  "Oi, você é o cara da Snooze, né?".

Eu estava com a Daniela e o Fabinho, com o Daniel. Nessa noite mesmo, já voltamos pra casa da minha tia no carro com os meninos. Antes, porém, bebemos juntos até o bar nos expulsar e, não satisfeitos, compramos um vinho barato e ficamos falando besteira dentro do carro até de manhã. Por pelo menos um ano, não conseguimos nos desgrudar mais.

Ainda morava em Maceió nessa época. Então começamos uma rotina louca de num fim de semana a gente vinha, no outro eles iam lá. Viramos um quarteto inseparável. Eu ficava com Daniel e a Dani ficava com Fabinho. Só beijinhos. Mas uma regra silenciosa proibia que qualquer um assumisse que estava namorando. O mais importante era a união dos quatro.

Nossa amizade tinha uma pureza muito grande. Não era nada do tipo "sexo, drogas e rock'n'roll", apesar deles serem "os caras daquela banda de rock". A gente gostava mesmo era de falar besteira. Ríamos muito. Nos amávamos intensamente e só queríamos estar juntos. Cada vez que tínhamos que nos despedir era um sofrimento.

Era o início da nossa independência, fase de ouro que tive o privilégio de compartilhar com Daniel, Fabinho e Daniela. Fizemos viagens loucas pra Recife e Salvador, só como desculpa pra passar mais tempo juntos.

Essa em Salvador é antológica. Tocamos o terror num bar, também extinto, que tinha o sugestivo nome de 'Vicious'. O dono era o Messias, na época ainda vocalista da brincando de deus e já amigo dos meninos. Muito foda aquele bar. Aquela noite foi inesquecível.

A de Recife Fabinho não foi - e ficou arrasado por isso. Daniel encarou 8 horas de ônibus só pra passar um fim de semana com a gente, na roubada. Ficamos os três num mesmo quarto de hotel. Levamos uma bronca da recepcionista por isso, mas nem ligamos. Não teve nenhuma orgia. Só enchemos a cara e rimos muito. Muito mesmo. Com todo tipo de bobagem que nos vinha a cabeça. Saímos uma noite, só pra sair mesmo. Fomos num show do Kid Abelha no (também) extinto Circo Maluco Beleza. Mas a gente nem ligou pro show, especialmente depois que Daniel fez um comentário infeliz sobre as pernas da Paula Toller (humpf!). Conversamos, bebemos muito e rimos alto.

Quando eles iam pra Maceió ficavam na minha casa. Eu ainda não sabia dirigir. Numa dessas vezes, Daniel, com aquela cara de bom moço, conseguiu uma façanha inacreditável: dirigir a caravan do meu pai pra gente sair à noite. Quem conhece o meu pai, e a relação dele com o carro DELE, deve estar agora de queixo no chão.

Quando eu e Dani vínhamos pra Aracaju, ficávamos na casa do Fabinho. O pai do Fabinho era representante dos vinhos Santa Felicidade e a loja era na garagem da casa. E mais: os pais dele não passavam o fim de semana em casa. Era o verdadeiro paraíso. Demos uma boa baixa nos estoques de seu Rafael.

Mas, um dia, Daniel conheceu outras meninas. E, do mesmo jeito que eu tinha roubado ele das amigas dele (Alessandra, Ágatha e Gabi - que naturalmente me detestavam) elas roubaram ele de mim. E, óbvio, eu as detestei. Na verdade, isso eu iria entender só muito tempo depois, Daniel é que era assim: desprendido, aventureiro, nômade. Algum tempo depois, ele foi embora morar em Campinas e também deixou essas meninas pra trás. E lá, deixou outras muitas.

Apesar da distância e da eterna queixa por ter sido abandonada, é óbvio que ele sempre teve um lugar especial na minha vida. Principalmente porque foi depois que ele se afastou que eu comecei verdadeiramente minha história de amor com o Fabinho.

Uma década se passou. Crescemos, amadurecemos e nesses últimos três anos, não teve uma vez sequer que ele viesse por aqui que não desse um jeito de nos ver. Nesse último fim de ano, a visita dele foi bem especial. Ele passou lá em casa numa noite e, dessa vez, ficou claro que estava sem nenhuma pressa pra ir embora. Sentei do lado dele como há muito tempo não fazia e, por diversas vezes, olhei pra ele, sorri e falei que estava muito feliz por vê-lo.

Na última segunda feira, comecei o dia com minha sessão de terapia. Espontaneamente, passei a sessão inteira contando essa história pra minha psicóloga. As lembranças ficaram vívidas em minha memória ao longo de todo o dia. À noite, Fabinho me deu a notícia triste quando chegou em casa.

Essa vida é estranha.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um encontro especial



Foi sem saber que me deparei com esse belíssimo filme ontem a noite. Enquanto o céu desabava sobre Aracaju, vinhos, carinhos e cinema-arte.
Nazismo, homossexualismo, machismo, repressão, sublimação. Uma atmosfera de sutileza visual, sonora, estética e espacial. E, acredite, nada, nada de convenções.
Não fosse pelo pano de fundo da visita de Hitler à Itália, que ao final do filme vai se revelar não uma mera localização de tempo, do modo que foi filmado, Una Giornata Particolare (1977) poderia se passar em qualquer época. 
Há um quê do Hitchcock de Janela Indiscreta na transparência da relação entre os dois vizinhos "de janela"; e na própria janela-objeto, pela qual escapa um papagaio e para onde ele vai pousar - criando o elo, e o conflito, entre os personagens. Também há Hitchcock no espaço cênico único, do condomínio, - ora no apartamento de um ou do outro, ora no telhado - onde se desenrola toda a história.
Há também traços de Antonioni nos enquadramentos insistentemente pictóricos, simétricos, cujos objetos se projetam à frente da cena e dos próprios personagens, tornando-se eventualmente nós de tensão ou conflito, mesmo que visual (o lustre desregulado, os papéis que se espalham no chão, a louça suja empilhada na mesa, os lençóis estendidos no varal do terraço).
Mas, claro, estamos falando de outro gênio do cinema. E a beleza e a sutileza no tratamento de temas tão intensos e delicados como os que Una giornatta particolare suscita só podia sair da direção de um Ettore Scola.
Um filme para noites chuvosas e bem-acompanhadas.


quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ao fim do dia do jornalista

O dia do jornalista vai acabando e eu fico aqui pensando...

ao mesmo tempo em que, como muitos hoje em dia, vivo me perguntando onde estava com a cabeça quando decidi ser jornalista, vez por outra ainda consigo sentir aquela tão sonhada realização.

Ainda me entristecem a cultura da vaidade do nome e do glamour da imagem daquele "grande formador de opinião". Sou mais afeita ao hábito da humildade, e ele é escasso em nosso meio. Não deve ser à tôa que usamos a palavra "humilde" como eufemismo para uma pessoa que é pobre, de dinheiro mesmo.

Entretando, nessa já não tão nova configuração de mundo, onde a idéia de troca de informação precisa ser substituída pela cultura do relacionamento, do compartilhamento e da generosidade intelectual, algum entusiasmo dentro de mim se reacende.

E é nesses surtos de devaneio que volto a achar que era mesmo besteira minha querer ser médica só porque fiquei viciada em E.R.