segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um encontro especial



Foi sem saber que me deparei com esse belíssimo filme ontem a noite. Enquanto o céu desabava sobre Aracaju, vinhos, carinhos e cinema-arte.
Nazismo, homossexualismo, machismo, repressão, sublimação. Uma atmosfera de sutileza visual, sonora, estética e espacial. E, acredite, nada, nada de convenções.
Não fosse pelo pano de fundo da visita de Hitler à Itália, que ao final do filme vai se revelar não uma mera localização de tempo, do modo que foi filmado, Una Giornata Particolare (1977) poderia se passar em qualquer época. 
Há um quê do Hitchcock de Janela Indiscreta na transparência da relação entre os dois vizinhos "de janela"; e na própria janela-objeto, pela qual escapa um papagaio e para onde ele vai pousar - criando o elo, e o conflito, entre os personagens. Também há Hitchcock no espaço cênico único, do condomínio, - ora no apartamento de um ou do outro, ora no telhado - onde se desenrola toda a história.
Há também traços de Antonioni nos enquadramentos insistentemente pictóricos, simétricos, cujos objetos se projetam à frente da cena e dos próprios personagens, tornando-se eventualmente nós de tensão ou conflito, mesmo que visual (o lustre desregulado, os papéis que se espalham no chão, a louça suja empilhada na mesa, os lençóis estendidos no varal do terraço).
Mas, claro, estamos falando de outro gênio do cinema. E a beleza e a sutileza no tratamento de temas tão intensos e delicados como os que Una giornatta particolare suscita só podia sair da direção de um Ettore Scola.
Um filme para noites chuvosas e bem-acompanhadas.


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