segunda-feira, 4 de julho de 2011

revelando negativos...

De quando em quando, sou assaltada por essa vontade urgente de revelar o negativo registro documental da minha alma

Transito pela linha fina entre a ficção socialmente amigável ou a exibição que me deixará sozinha na sala escura.

Minha montagem é opaca

Dou impressão de movimento, mas não passo de fragmentos

E vivo assim, tentando colar meus pedaços

Meu filme queima.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sangue, sexo e alteridade



Outubro está quase acabando e eu não tinha escrito nada ainda... pra não ser acusada de abandono de domínio resolvi voltar a exercitar minhas idéias.

Nunca fui muito fã de seriados. Muito pontualmente me interessei por alguns poucos em momentos diferentes da minha vida. Quando estava em São Paulo, por exemplo, enfurnada em casa com dois compromissos gigantescos - ser mãe e terminar a dissertação de mestrado - me peguei fascinada por E.R (que no Brasil recebeu a tradução de Plantão Médico e teve as primeiras temporadas exibidas na Globo). Viciei a tal ponto que cheguei a ensaiar umas análises. Fui fisgada não só pela estrutura de novelinha continuada característica do formato como, principalmente, pela estética visual e pela incrível direção de câmera, sempre frenética. Nos momentos em que se tratava do foco da série - o corre-corre de um pronto socorro - a cinematografia era espetacular, desenhando uma trajetória fluida, ágil e labiríntica na mise-én-scène.

Mas esse post é pra falar do meu mais novo vício: True Blood. Para além do fato de que sempre adorei histórias de vampiro (meu nick no saudoso mIrc era "mairavampira") e de que os vampiros em questão são mesmo irresistiveis, fico me perguntando o que há de tão legal nessa série a ponto de não me entediar depois de assistir quase duas temporadas seguidas, de uma vez só.



Numa primeira olhada, True Blood parece não passar de mais um desses enlatados com um novo embrulho - pegando carona na modinha dos filmes de vampiro. Mas, alto lá! Eu não sou assim tão fácil. Há de ser algo mais além de vampiros bonitões e muitas cenas tórridas de sexo atroz e sanguinário.

Logo na abertura, uma dica pra gente se ligar: lê-se rapidamente num letreiro ao fundo de uma das cenas 'God hates fangs' (Fangs significa "presas", referência aos caninos dos vampiros, mas com um pouco mais esforço dá pra entender o trocadilho com Fags = bicha, viado). A intolerância à alteridade é o tema central em True Blood.

Nessa série ninguém é o que parece, ninguém está com a consciência tranquila, todo mundo tem um trauma ou um passado negro e, aos poucos, assim como os próprios personagens, nós, espectadores, vamos aprendendo que não se pode confiar em ninguém. Preconceito é um tema recorrente. Não é pra menos. A quase totalidade dos personagens principais é parte de alguma "minoria" - se é que dá pra chamar assim. Negros, gays, vampiros, lobisomens, transmorfos e etc. Há tanta diversidade de gêneros e seres que o conceito de "maioria" se perde na diegese. Todo mundo é algum tipo de outro - diferente, caricato, interiorano, medíocre, suburbano. E a base dos conflitos se estabelece justamente na questão da dominação entre raças e gêneros. 

Para além das questões relativas à alteridade - tão contemporânea e multiplamente discutível - há também uma pegada diferente nessa já tão batida estética vampiresca. Há um grau de humor negro bastante provocativo nas cenas de sanguinolência e carnificinas e uma pitada de cinema trash nas melecas em que os vampiros se tranformam quando morrem. O clima sombrio do universo dos vamps, lobisas e afins é sempre quebrado por um tom sarcástico e uma boa dose de erotismo. Os figurinos são provocantes e remetem à estética do fetiche, abusando de látex, correntes e maquiagem pesada. O "instinto animal" se manifesta a todo momento e todo mundo parece estar numa espécie de tesão eterno e coletivo. Sexo e romance não andam juntos aqui.

Algo na direção de arte também nos provoca ao questionamento: o paradoxo entre a assepsia e a elegância dos ambientes "vampirescos", e uma certa decadência kitsch nos espaços no mundo "normal". E, claro, no centro da narrativa, há o amor impossivel da "mocinha" com essa espécie de anti-herói que ninguém sabe ao certo ainda pra que veio. Estamos na terceira temporada ainda e muita coisa pode mudar. Mas eu gosto dessa tendência ao desvelamento de mais e mais camadas de entendimento.

Meus instintos estão aguçados.
Quero mais True Blood.


*A capinha delícia que a Rolling Stone deu pra série disse tudo:

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A experiência de uma campanha


Participar de uma campanha é algo (que eu imagino ser) parecido com esses reality shows que estão na moda. Há o confinamento: temos hora pra chegar, mas nunca pra sair e trabalhamos de domingo a domingo. Há as provas diárias de resistência, de esforço, de paciência, de autocontrole, de raciocínio. Há a delicada relação interpessoal a ser administrada.

No começo tudo é novidade: a gente acha a comida ótima, as pessoas são novas, legais e divertidas. Com o passar do tempo surgem as diferenças, os conflitos, o cansaço e a comida já começa a perder a graça com os pratos repetitivos e sem individualidade da cozinha industrial.

Acumulam-se episódios divertidos: quedas e carreiras levadas durante nas carreatas; personagens inusitados encontrados pela estrada; apelidos dados a equipe; piadas contadas na sala e na van... assim como acumulam-se episódios não tão legais: discussões - frequentemente movidas pela exaustão; teorias da conspiração entre chefes e equipes; fofocas; desavenças irreconciliáveis; broncas do chefe em público...

Talvez não seja assim com todas as equipes de campanha, mas no caso da equipe de comunicação da campanha para a reeleição do governador de Sergipe Marcelo Déda, uma coisa parece ter sido inquestionável: a confiança na causa, a certeza de estar participando de um momento histórico bastante singular e a admiração genuína de todos pelo candidato.

Só dá pra aguentar uma rotina de trabalho exaustiva quando é fácil enxergar a motivação. Isso serve pra tudo na vida. Mas nada é ainda mais nobre do que perceber que o que estamos dando é uma contribuição efetiva para um futuro melhor para as pessoas. Ao menos em um aspecto importante da vida delas, que é a garantia de cidadania e vida digna.

Falando por mim, mas arriscando falar pela maioria de quem fez essa campanha, só o dinheiro não compensaria estes três meses em que me ausentei completamente de meu convívio social e familiar. É preciso acreditar que há um papel nobre em levar à sociedade as informações necessárias para que ela tome uma decisão política qualificada.

No meu caso pessoal, houve um charme a mais em coordenar um trabalho inovador e desafiador que foi a comunicação da campanha na web e redes sociais. Como não sou besta, cerquei-me de pessoas de quem eu já conhecia ou menos desconfiava do talento e da responsabilidade profissionais. Carregarei pra sempre comigo o orgulho de, no mínimo, ter feito as escolhas certas para esse trabalho. Jovens profissionais sensíveis e talentosos – cada um com suas manias, com seus defeitos, com suas besteiras, é verdade - , mas todos com muita garra e com um futuro promissor lhes aguardando adiante.

Uma coisa é certa: todos nós crescemos muitos nestes três meses, tanto profissionalmente como pessoalmente. Nesse sentido, não posso deixar de fazer um agradecimento especial a Carlos Cauê, com quem adquiro anos de aprendizado a cada conversa de corredor e a quem nutro muito respeito e carinho. O trabalho revolucionário da comunicação tanto no governo quanto na campanha deve-se fundamentalmente a sua competência visionária.

Ok, esse é um texto longo, pessoal e possivelmente muito chato pra quem nunca trabalhou numa campanha (se é que alguém conseguiu ler até aqui). Mas quem me conhecer de verdade, verá que há aqui o relato de uma mudança significativa na minha visão de mundo, por isso senti a necessidade de fazer esse registro.

Peço ajuda a Drummond para dar um fim a essa história:
“Ninguém passa pela nossa vida sem deixar um pouco de si, sem levar um pouco de nós. Existem uns que deixam pouco, mas não existe nenhum que não deixe nada. Existem os que levam pouco, mas não existe ninguém que não leve nada”

domingo, 29 de agosto de 2010

Reflexões sobre comunicação eleitoral nas redes sociais

Em tempos de eleições na web e, principalmente, com a nova possibilidade do contato “corpo-a-corpo” com o eleitor via redes sociais, é cada vez mais fina a linha que separa o que é relacionamento do que não passa de spam.

E neste quesito, todo cuidado é pouco. Porque é possível que ainda não tenha surgido um meio mais implacável de queimar a imagem de alguém do que as redes sociais. Quem cai em desgraça via Twitter ou Orkut, já era. Um conceito central, inerente à própria natureza da rede, é o veneno mais mordaz para os que perderam as lições de netiqueta: chama-se pulverização. A navegação em teia, cujas possibilidades de caminhos são absolutamente infinitas, carrega consigo a informação de modo individualizado, personalizado e dificilmente rastreável.

Ignorar a organicidade da rede é o maior equívoco que um candidato pode cometer. Significa dizer que não adianta sair falando a mesma coisa pra todo mundo; invadindo os espaços ocupados deliberadamente por pessoas que pensam – e prezam veementemente por sua liberdade de expressão nestes espaços – para empurrar um monólogo goela abaixo. É pedir pra ser massacrado publicamente. E nenhum lugar hoje é mais público que a web.

A campanha do governador de Sergipe e candidato à reeleição, Marcelo Déda, nas redes sociais tem tido esse cuidado. O internauta é tratado como alguém que pensa e opina do outro lado. Mais que falar, a presença da equipe Déda13 na rede tem por objetivo primordial ouvir, responder, dialogar.

Em vez de sair fazendo CtrlC CtrlV para todo lado, as contas identificadas pela campanha ‘Déda13’ são conduzidas com a intenção de proporcionar mais informações e argumentos para que o eleitor tome sua própria decisão.
Obviamente, ao serem detectados os perfis que já declaram espontaneamente suas intenções de posicionamento e de participação, a estratégia é usar as redes como um meio de constante  mobilização.

É bom ressaltar que a comunicação do governo Déda não caiu de paraquedas no mundo das redes sociais, por puro oportunismo de campanha eleitoral. Há pouco mais de um ano, com a mudança de secretariado na pasta de Comunicação, foi criado um núcleo dentro da Secretaria com o desafio de encontrar os melhores meios de marcar a presença do governo nestes novos espaços de diálogo.

Denominado “Núcleo de Cultura Digital”, o objetivo da nova equipe era ocupar esses espaços com os argumentos e a opinião do governo. E, acima de tudo, tirar proveito do potencial de interlocução destes novos meios, conscientes de que, pela primeira vez, a comunicação governamental tinha acesso a uma mídia que não é surda.

Ainda que criada intuitivamente, a denominação “núcleo de CULTURA digital” não poderia ter sido mais oportuna. Sim, porque era a mudança de um comportamento que se revelaria o obstáculo mais árduo a ser superado. Tanto dentro da própria dinâmica de trabalho do governo, como, sobretudo, por parte dos próprios cidadãos.

De tão novo, esse é um trabalho que causa muito estranhamento. Tentar se relacionar na rede declarando-se como ‘governo’ ou, mais difícil ainda, como ‘equipe de campanha’ de um candidato já é por si só um passaporte para o “unfollow” ou “block”. É preciso muito tato pra não soar invasivo ou ofensivo. Ainda assim, há um número expressivo de rejeição ‘a priori’.

No caso do governador Marcelo Déda, ajuda muito o fato dele próprio alimentar ativamente sua conta pessoal no Twitter. Assim, não fica dúvidas de que o perfil @MarceloDeda é ele próprio – e que portanto é, além de governador, um cidadão, um amigo, um pai, um marido – e o perfil @13deda é alimentado pela equipe de campanha com informações atualizadas exclusivamente sobre ações e agenda do candidato.

Outra diferenciação bastante peculiar, e difícil de ser definida, na comunicação online do candidato Marcelo Déda foi a separação entre o conteúdo de notícias do site e as abordagens dos textos no blog e nas redes. Até porque é muito comum que sejam profissionais de jornalismo que integrem ambas as equipes.

Separar as Hard News do conteúdo singular, específico, diferenciado, foi o caminho encontrado e que tem dado bastante certo. No mínimo, já dá pra saber que notícia é notícia; blog e rede social é... bem, é outra coisa.

Um bom exemplo do que é essa outra coisa foi o surgimento de um personagem no blog Déda 13: o repórter de campanha. Vez por outra, os posts do blog são narrados em forma de diário pessoal, em primeira pessoa, da figura do repórter que tenta ver de fora a experiência de  trabalhar na campanha deste candidato. Há um risco em não abusar da fórmula interessante, mas vale a ousadia.

Outra peculiaridade que define a “outra coisa” das redes sociais é a possibilidade de lidar com o material bruto, do ponto de vista estético. Em detrimento da qualidade sonora e visual, vale usar vídeos amadores pelo frescor do momentum que transmitem, pelo valor agregado de verossimilhança. E aqui há de se reconhecer que é louvável que um candidato aceite o risco desta aventura em sua comunicação oficial.



Maíra Ezequiel
Coord. de web/redes sociais da campanha Déda13


sábado, 21 de agosto de 2010

Generosidade intelectual

Essas duas palavras não me saem da cabeça.
Não vou começar agora a dizer às pessoas como elas devem viver.
Faltei a todas as aulas sobre como escrever um livro de auto-ajuda (se é que precisa de aula).
Tampouco estou me posicionando como um modelo de nada.
Não é isso.
É só que observo muito. As coisas, as pessoas, o mundo.
Penso e pulso. E, às vezes, ignoro. E me anulo.
Normalmente o que não me parece interessante é o que tem muita consciência de si.
Não precisa de mim.
Luto com todas as minhas forças, cotidianamente, para manter o exercício da auto-crítica, ainda que em detrimento da auto-estima.
Bate mais forte em mim o desejo de desvelar o talento inadvertido, a beleza embrutecida, a capacidade subestimada.
Repudio o brilho forjado, acreditado, nutrido. Que se preocupa, e perde tempo, em sê-lo. Mais que qualquer outra coisa.
Antes o silêncio, a página em branco, o sorriso espontâneo, a intenção de ser bem.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Em primeira mão!

Teaser do Disco da The Baggios # 01 ::: Filmado por Victor Balde :::: Editado por Julio Andrade

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Sobre cinema e roquenrou

Já andei falando várias vezes no meu twitter mas nunca é demais lembrar: já faz tempo que não dá mais pra reclamar da noite sergipana. Falo pros roqueiros, claro.

Ainda sofremos com a falta de locais alternativos para produzir os shows, isso é um fato.O Cap. Cook é a única, mas nem de longe a melhor alternativa do ponto de vista da qualidade do serviço. Ainda assim, ainda bem que tem ele.

E além dele, como também já repeti milhares de vezes, tem essa balada excelente que é a Sessão Notívagos. Mistura de duas coisas que eu mais gosto nessa vida: cinema e rock. É pouco? Não acho. Lugar inusitado (bandas ao vivo de madrugada dentro de um shopping é a visão da transgressão! yeah!), preço justo, cerveja (ok, nem sempre tá gelada e o serviço precisa melhorar) e o principal: é um esquema que, mal ou bem, está colocando Aracaju no circuito das bandas mais expressivas do cenário indie nacional. Ninguém andava querendo se aventurar nessa empreitada aí, fazia tempo.

Uma coisa que também me faz respeitar esse esquema é o modo como as bandas estão vindo: sem roubada, cachê na mão, som minimamente decente e tal. Talvez até a equação esteja um pouquinho desequilibrada aí. As bandas tem que ser pagas e vir em boas condições, ok. Mas o resto tem que ir na mesma proporção também: esquema de som, luz, divulgação, bar, etc...Mas, enfim, isso é uma impressão de fora, superficial e totalmente não embasada da minha parte. Não quero fazer a linha de procurar defeito nas coisas que estão dando certo. De minha parte, a sessão Notívagos tem todo o desejo e torcida para que tenha vida longa.

Neste último sábado, a programação foi não menos empolgante que a média. O filme A todo volume (postei sobre ele aí embaixo) tem uma proposta bem legal. Três guitarristas comentando suas relações com o instrumento e trocando algumas idéias, fazendo uma jam. Só o The Edge ficou meio deslocado, na minha opinião. Dispensável. Mas foi ótimo ver/conhecer toda a história do Jimmy Page como músico de estudio-yardbirds-ledzeppelin. E o Jack White é uma ótima surpresa (ao menos pra mim). Além de gato, dá os melhores depoimentos sobre sua relação roots com a música. Good fun! 

As bandas dispensam apresentações. O Retrofoguetes já é de casa. Showzaço como sempre. Platéia animada e muita irreverência. Não tem show ruim desses caras. O Pata de Elefante era a novidade da noite. Não deixou nada a desejar. Um pouco mais introspectiva, mas tão competente quanto o trio baiano. Como eu previa, foi uma noite esteticamente coerente.

Entre um show e outro puxei o Rex, batera dos Retroguetes, pra um papo rápido sobre tudo isso e qualquer coisa que viesse a cabeça. Conversinha espontânea, sem compromisso com pauta. 

Rendeu. Olhaí embaixo.