Participar de uma campanha é algo (que eu imagino ser) parecido com esses reality shows que estão na moda. Há o confinamento: temos hora pra chegar, mas nunca pra sair e trabalhamos de domingo a domingo. Há as provas diárias de resistência, de esforço, de paciência, de autocontrole, de raciocínio. Há a delicada relação interpessoal a ser administrada.
No começo tudo é novidade: a gente acha a comida ótima, as pessoas são novas, legais e divertidas. Com o passar do tempo surgem as diferenças, os conflitos, o cansaço e a comida já começa a perder a graça com os pratos repetitivos e sem individualidade da cozinha industrial.
Acumulam-se episódios divertidos: quedas e carreiras levadas durante nas carreatas; personagens inusitados encontrados pela estrada; apelidos dados a equipe; piadas contadas na sala e na van... assim como acumulam-se episódios não tão legais: discussões - frequentemente movidas pela exaustão; teorias da conspiração entre chefes e equipes; fofocas; desavenças irreconciliáveis; broncas do chefe em público...
Talvez não seja assim com todas as equipes de campanha, mas no caso da equipe de comunicação da campanha para a reeleição do governador de Sergipe Marcelo Déda, uma coisa parece ter sido inquestionável: a confiança na causa, a certeza de estar participando de um momento histórico bastante singular e a admiração genuína de todos pelo candidato.
Só dá pra aguentar uma rotina de trabalho exaustiva quando é fácil enxergar a motivação. Isso serve pra tudo na vida. Mas nada é ainda mais nobre do que perceber que o que estamos dando é uma contribuição efetiva para um futuro melhor para as pessoas. Ao menos em um aspecto importante da vida delas, que é a garantia de cidadania e vida digna.
Falando por mim, mas arriscando falar pela maioria de quem fez essa campanha, só o dinheiro não compensaria estes três meses em que me ausentei completamente de meu convívio social e familiar. É preciso acreditar que há um papel nobre em levar à sociedade as informações necessárias para que ela tome uma decisão política qualificada.
No meu caso pessoal, houve um charme a mais em coordenar um trabalho inovador e desafiador que foi a comunicação da campanha na web e redes sociais. Como não sou besta, cerquei-me de pessoas de quem eu já conhecia ou menos desconfiava do talento e da responsabilidade profissionais. Carregarei pra sempre comigo o orgulho de, no mínimo, ter feito as escolhas certas para esse trabalho. Jovens profissionais sensíveis e talentosos – cada um com suas manias, com seus defeitos, com suas besteiras, é verdade - , mas todos com muita garra e com um futuro promissor lhes aguardando adiante.
Uma coisa é certa: todos nós crescemos muitos nestes três meses, tanto profissionalmente como pessoalmente. Nesse sentido, não posso deixar de fazer um agradecimento especial a Carlos Cauê, com quem adquiro anos de aprendizado a cada conversa de corredor e a quem nutro muito respeito e carinho. O trabalho revolucionário da comunicação tanto no governo quanto na campanha deve-se fundamentalmente a sua competência visionária.
Ok, esse é um texto longo, pessoal e possivelmente muito chato pra quem nunca trabalhou numa campanha (se é que alguém conseguiu ler até aqui). Mas quem me conhecer de verdade, verá que há aqui o relato de uma mudança significativa na minha visão de mundo, por isso senti a necessidade de fazer esse registro.
Peço ajuda a Drummond para dar um fim a essa história:
“Ninguém passa pela nossa vida sem deixar um pouco de si, sem levar um pouco de nós. Existem uns que deixam pouco, mas não existe nenhum que não deixe nada. Existem os que levam pouco, mas não existe ninguém que não leve nada”